quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Em Defesa do Calvinismo


Bom, primeiramente, já deixo claro que o título deste artigo é uma mera paráfrase à matéria de capa recente da revista Obreiro Aprovado (publicação famosa das Assembleias de Deus do Brasil), pois, justamente por confessar a fé reformada, seguindo a escola calvinista, não creio que o calvinismo necessite de uma defesa maior do que o tempo e seus feitos (do passado e do presente) podem promover. Além disso, grandes homens que foram relevantes não apenas para o calvinismo, mas para a igreja cristã, para sociedade na qual estavam inseridos e também para a construção história da sociedade atual falam com muito mais voz que um jovem bloggeiro.

Recentemente, com o boom de páginas reformadas na internet (blogs, fanpages, Twitters, canais no youtube, etc.) as doutrinas da graça foram se tornando tão conhecidas quanto atrativas, principalmente para a faixa etária que mais ocupa a internet, os jovens, e, em consequência disso algo natural acontece, a famigeração de suas bases e conceitos. 


Imaginem um determinado programa de televisão que existe há bastante tempo, e há bastante tempo divide opiniões. Uma pessoa, ao buscar conhecê-lo, pergunta aos seus grupos de amigos o que eles acham do programa. Uns o "defendem" exaltando suas qualidades, outros "atacam" exibindo os seus defeitos. O fato é que todas essas pessoas que emitiram seus juízos, antes de acompanharem o programa, também fizeram suas pesquisas de opinião e, possivelmente, receberam mensagens muito parecidas com as que relataram aos seus amigos que vieram pedir opinião mais recentemente. Evidentemente, nesse telefone sem fio, algumas coisas se perdem, outras são acrescentadas e, dessa forma, nascem preconceitos e diversos pressupostos que, ora são meias verdades, ora são graves equívocos. 

A proposta aqui é analisar de forma superficial as argumentações mais superficiais contra o calvinismo que acontecem na internet. Mas, antes disso é importante explicar uma expressão do vocabulário das argumentações: o espantalho. Neo-críticos do calvinismo na internet usam essa técnica argumentativa com surpreendente frequência e infelizmente, pois trata-se de uma argumentação falaciosa que pode contribuir para a sedimentação de preconceitos além de incitar de alguma forma um desrespeito irracional e não justificado. O espantalho nada mais é que um argumento baseado num fato isolado que gera uma interpretação falaciosa desviando aquilo que é de fato verdade daquilo que está sendo argumentado.

Entendo isso, analisemos alguns espantalhos sobre o calvinismo e os calvinistas.



- Os calvinistas são frios espiritualmente: se o caso é ser cessacionista, ou seja, não crer na continuidade dos dons caristmáticos; - sim a grande maioria dos calvinistas são cessacionistas, de fato. Adeptos do calvinismo que se consideram pentecostais (ou carismáticos), em geral, possuem diversas ressalvas a respeito dessa crença graças a circo de aberrações que o pentecostalismo (o neo-pentecostalismo, para ser mais exato) brasileiro se tornou, ainda assim, eu diria que calvinismo e pentecostalismo acabam por não se cruzar na história da igreja, e parece ser uma característica nova para pentecostais e calvinistas, às vezes gerando atrito. Entretanto é perfeitamente aceitável que pessoas em meios pentecostais sejam totalmente adeptos das doutrinas da graça, tenham um entendimento bíblico e correto sobre a não existência do apostolado moderno e, ainda assim, crerem na continuidade dos dons. Após essa ressalva, o ponto principal é dizer que, cessacionismo é sinônimo de ausência de vida espiritual, vida de oração ou a existência de uma não crença em situações miraculosas é uma falácia, pois, por exemplo, de que outra maneira poderiam os calvinistas crerem na criação, assim como em toda a narrativa bíblica, que é uma mensagem absurda para a lógica terrena. Além disso, nas Institutas da Religião Cristã de João Calvino, fala-se mais em oração do que em predestinação.



- Os calvinistas não creem que a oração possa mudar as coisas, porque já está tudo predestinado: Basta assistir  uma das exposições do Rev. Augustus Nicodemus sobre oração para não pensar isso. De fato, os calvinistas acreditam que Deus conhece passado, presente e futuro, e também entendemos que o cristão deve orar e fazer petições para Deus. Mas apesar da aparente incoerência dessas duas afirmações postas lado a lado, e acima de tudo, cremos num Deus soberano e que pode fazer qualquer coisa, que nos revela o que conseguimos entender por misericórdia, mas que também age da maneira que quer independente da vontade humana.



- Os calvinistas não evangelizam porque acreditam que quem será salvo está predestinado: de fato, os calvinistas não creem que Deus escreveu a lápis no livro da vida e ele vai apagando ou reescrevendo conforme anda a carruagem. Cremos que existe sim um povo eleito espalhado pelo planeta; aqueles que serão salvos, alcançados pela misericórdia de Deus e que Ele sabe exatamente quem são e como eles O servirão. Entretanto, nós, aqui na terra, não sabemos quem são essas pessoas, por isso pregamos o evangelho. A eleição não exclui a pregação do evangelho. É bem verdade que você jamais verá um grupo de calvinistas numa marcha para jesus gritando "Jesus te ama" para quem estiver passando na rua, mas convenhamos que uma dezena de "Jesus te ama" também não evangeliza ninguém.




E por fim, a melhor de todas


- Os calvinistas acreditam que todas as pessoas são robôs manipuladas por Deus: se os calvinistas creem em livre-arbítrio? Não, não creem. Por quê? Porque cremos que o homem possui uma natureza, herança de Adão, que naturalmente o impulsiona para o pecado, desobedecendo a Deus. Quando o homem não desobedece a Deus, e ele faz a Sua vontade, e isso vem, naturalmente de Deus. A questão é que existe um entendimento muito raso sobre o que realmente significa ter livre-arbítrio por esta ser uma máxima moderna extremamente arraigada ao pensamento contemporâneo. Livre-arbítrio significa ter a capacidade de tomar decisões sem ser influenciado por qualquer coisa, ora se cremos que, ao desobedecer a Deus, somos dirigidos pelo pecado que há em nós e, se, ao obedecermos, cremos estar cumprindo a sua vontade, como podemos dizer que não estamos sendo influenciados. Sobre crer se as coisas que acontecem foram previamente predestinadas ou "permitidas" por Deus, é outra discussão (bastante aberta inclusive), mas sobre tomar decisões sem influência alguma, é de comum acordo aos calvinistas que isso não seja possível. E é justamente por isso que devemos ser extremamente responsáveis por nossas decisões, pois sempre haverá opções, mas isso não significa que existe liberdade para escolhê-las (afinal de contas, as opções são sempre impostas de alguma forma): entre a esquerda, a direita e o meio, existem pessoas que acreditam haver liberdade, outras não, isso é natural.

Por fim, gostaria de deixar o vídeo do Pr. Joel Theodoro sobre as atitudes dos recém-reformados para que reflitamos.



Espero que isso possa ajudar em algum momento.

Paz seja convosco      


Um comentário:

  1. Sobre o último tópico de sua postagem, na verdade o gaulês João Calvino não apregoa que o homem seja um mero robô manipulado por Deus, mas, sim, que todos os seres humanos são CAVALOS "montáveis" por Deus ou pelo diabo. Eis, portanto, o necessário esclarecimento, já que exatamente assim é que está escrito na tese conhecida como "Institutas".

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